Ir para o menu de navegação principal Ir para o conteúdo principal Ir para o rodapé

Artigos

v. 1 n. 1 (2014): Revista de Estudos Empíricos em Direito

Direito e Restos Humanos: uma hipótese para o enfrentamento jurídico-penal da tortura no Brasil

DOI
https://doi.org/10.19092/reed.v1i1.7
Enviado
janeiro 25, 2014
Publicado
2014-01-25

Resumo

O trabalho discute o problema da tortura no Brasil a partir de uma perspectiva empírica e de uma abordagem funcionalista, analisando a reduzida efetividade do sistema jurídico penal para filtrar episódios de violência policial. A partir da análise de 43 processos criminais e de entrevistas com 12 profissionais, foi constatado um alto número de alegações de violência policial por parte dos acusados e raríssimas determinações de investigações por parte de defensores, promotores e juízes criminais. A partir de uma análise comparativa, a pesquisa sugere que fatores estruturais do processo penal brasileiro induzem a inércia dos atores jurídicos relevantes. O decurso de tempo entre a prisão do acusado e seu interrogatório em juízo é extremamente elevado, dificultando a possibilidade de produção de provas da tortura. A inexistência de um sistema de recompensas (plea bargaining) e sanções (perjúrio) induz os acusados a não permanecer em silêncio, mas a prestar uma versão dos fatos recebida geralmente como fantasiosa pelos profissionais. Além disso, a inexistência de um mecanismo eficiente de controle da atividade policial leva os atores jurídicos a não terem a iniciativa de investigar as alegações de tortura feitas pelos acusados ao longo do processo criminal. A título de conclusão, é sugerida a realização de pesquisas empíricas mais amplas sobre esta hipótese para o problema da tortura no Brasil, além de reforma legislativa que torne o sistema jurídico penal brasileiro um instrumento mais eficiente de filtragem de episódios de violência policial.

Referências

  1. Bogira, S. (2007). Courtroom 302: A Year behind the scenes in an American courtroom. New York: Vintage.
  2. Cavallaro, J. (1997). Police brutality in urban Brazil. New York: Human Rights Watch.
  3. Chemerinsky, E. (2001) The role of prosecutors in dealing with police abuse, Virginia Journal of Social Policy and the Law, 8, 305-320.
  4. Dershowitz, A. (2004) Torture reasoning. In S. Levinson (Ed.). Torture: A collection. Oxford: Oxford University.
  5. Felley, M. M. (1982). Plea bargaining and the structure of criminal process. The Justice System Journal, 7, 338-354.
  6. Felley, M M (1997). Legal complexity and the transformation of the criminal process: The origins of plea bargaining. Israel Law Review, 31, 183-222.
  7. Fisher, G. (2002). Evidence. New York: Foundation Press.
  8. Fisher, G. (2003). Plea bargaining’s triumph: A history of plea bargaining in America. Stanford: Stanford University.
  9. Friedman, L. (1975). The legal system: A social science perspective. New York: Russel Sage Foundation.
  10. Friedman, L. (1979). Plea bargaining in historical perspective. Law & Society Review, 13, 247-259.
  11. Grinover, A. P. (1999). Juizados especiais criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais.
  12. Huggins, M., Haritos-Fatouros, M.. & Zimbardo, P. (2002). Violence workers: Police torturers and murderers reconstruct Brazilian atrocities. Los Angeles: University of California.
  13. Kennedy, D. (1997). A critique of adjudication: Fin de siècle. Cambridge: Harvard University.
  14. Langbein, J. H. (1979). Torture and plea bargaining. The University of Chicago Law Review, 46, 3-22.
  15. Langer, M. (2004). From legal transplants to legal translations: the globalization of plea bargaining and the American thesis in criminal procedure. Harvard International Law Journal, 45 (1), 1-64.
  16. Langer, M. (2007) Revolution in Latin American criminal procedure: diffusion of legal ideas from the periphery. American Journal of Comparative Law, 55, 617-676.
  17. Reimann, M., & Zimmermann, R. (Eds.) (2008). The Oxford handbook of comparative Law. Oxford: Oxford University.
  18. Rudovsky, D. (1992). Police abuse: can the violence be contained?. Harvard Civil Rights – Civil Liberties Law Review, 27, 465-501.
  19. Williams, G. H. (1993) Controlling the use of non-deadly force: Police and practice. Harvard BlackLetter Law Journal, 10, 79-104.
  20. Zimbardo, P. (2007). The Lucifer effect: Understanding how good people turn evil. New York: Random House.

Downloads

Não há dados estatísticos.